Pra você, que me tira o sono...
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Acordou no meio da noite com uma sensação estranha. Não, não era o vazio costumeiro, pelo contrário! Sentia-se encher de emoções diferentes que não sabia ao certo de onde vinham. Talvez, do outro lado da cidade, alguém também estivesse acordado; talvez sentisse exatamente a mesma coisa. Esse pensamento ardeu no peito e lhe fez tremer. Era recíproco, sabia. Se preencheriam juntos.
Foi pensando assim que correu as mãos pelo próprio corpo, como se sentisse o carinho que esse alguém lhe dava. Do outro lado da cidade faziam o mesmo as outras mãos. E, apesar da distância, puderam sentir um ao outro. As mãos de ambos, trêmulas, percorriam-se, acariciavam-se na fantasia. Num universo que não era aquele. Que era só deles.
E o desejo veio forte e arrebatador. Sentiu que não poderia mais esperar, não amanheceria enquanto não se satisfizessem. Fechou os olhos. Sentiu os lábios quentes em suas costas e pôde ouvir os sussurros do outro. A distância não era sequer capaz de barrar o som do gemido abafado. Sentia o cheiro, as mãos, o calor!
Tudo ficando mais intenso, mais forte... mais rápido! Sentiu o suor escorrer pelo seu rosto e percebeu que aquele suor não era apenas o seu.
Enfim, o gozo. Como se seu peito abrisse de repente, como se se enchesse de luz! Vertigem... Olhar sem ver. E as mãos, ainda trêmulas, perdiam-se procurando o outro corpo. Para eles, tudo muito real.
Talvez ninguém entenda como naquela noite, mesmo tão separados, puderam estar tão juntos. Mas eles entendiam. Entendiam também que não havia acabado. Nunca passa... Havia ainda muito para saciar. E muito sono pra perder...